Venho por este meio, em consideração aos respeitáveis leitores deste blog, informar que o mesmo será desativado em breve em virtude de o ter transferido para outro endereço: https://patrimonioextinto.blogspot.com/
Esta decisão foi tomada por razões de adaptabilidade informática.
Agradeço a vossa compreensão e aproveito para convidar os estimados seguidores a o fazerem no endereço supra mencionado.
Cartaz: B.C.G. Mais Vale Prevenir do que Remediar Coleção da Tuberculose – 1955, In http://www.insa.min-saude.pt
A propagação da tuberculose teve um exponencial crescimento nas duas ultimas décadas do século XIX, o elevado nível de contagio e o desconhecimento das precauções para com a epidemia, estiveram na origem da sua dimensão.
Também Portugal viria a ser atingido com o surto e assim como a maioria dos países desenvolvidos ou, tecnicamente, em vias de desenvolvimento, teve que adotar medidas que podassem dar resposta não só aos casos diagnosticados, mas também salvaguardar os sãos. A capacidade hospitalar para os receber, com o acrescido risco de contagio e a necessidade de isolamento, ficavam muito aquém do necessário.
já no inicio do século XX começam a surgir sanatórios por todo o país, de norte a sul, do inteiro ao litoral. O aparecimento destas unidades hospitalares está diretamente relacionado com a doença, desde a escolha da sua localização geográfica até a sua especialização médica.
Ilustração Alusiva a Homenagem à Rainha Dona Amélia pelo reconhecimento das suas acções beneméritas. In http://restosdecoleccao.blogspot.com, s/d
A Rainha Dona Amélia, esposa do Rei Don Carlos e ultima a ocupar esse cargo antes do asilo entre França e Inglaterra, fundou a 11 de junho de 1899 o Instituto Nacional de Assistência aos Tuberculoso, que esteve na origem da construção dos sanatórios em todo o país.
A ATNP (Assistência aos Tuberculosos do Norte de Portugal ) , hoje é uma IPSS que tem como objetivos o apoio a crianças, jovens e famílias, na saúde, educação, cultura, desporto e intervenção comunitária. In Facebook da ATNP
Outras instituições surgem com o intuito do combate à doença, em 1930, com a fundação da Assistência aos Tuberculosos do Norte de Portugal (ATNP) pelo professor António Elísio Lopes Rodrigues, a região ganha novo fôlego no combate ao flagelo. É então que o Sanatório de Mont’Alto, conhecido como Sanatório de Valongo, mas localizado em São Pedro da Cova, concelho de Gondomar, começa a ganhar vida, ultimo a ser construído no país, as obras arrastaram-se anos e anos e o Sanatório, que começou a ser construído em 1932, só foi inaugurado em 1958, entre financiamentos bloqueados e petições populares.
Fachada do edifício principal do Sanatório de Mont’Alto, Ruína em 2018
O local escolhido, Monte de Santa Justa, um dos três pontos de maior elevação das “Serras de Valongo”, a pouco mais de 6 km da cidade do Porto e repartidas entre os concelhos de Valongo, Gondomar e Paredes, foi escolhido pela proximidade dos grandes centros e ao mesmo tempo pelo isolamento geográfico e ainda porque a altitude de 367 metros proporciona um ar de qualidade superior, fator importantíssimo para o tratamento da doença sobretudo relacionada com os pulmões.
A Memória e Obra de um Arquiteto
Júlio José de Brito (1896-1965) Arquiteto, Engenheiro e Professor. In sigarra.up.pt
A obra de Júlio de Brito contribuiu para a construção da imagem da cidade do Porto na primeira metade do século XX, num entanto a sua obra extensa e distinta tem hoje maior visibilidade do que seu próprio nome. Filho do pintor homónimo Júlio de Brito, seguiu os passos do pai enveredando pelo mundo das artes, estudou também na Escola de Belas Artes do Porto, onde se formou em arquitetura e onde acabou por lesionar durante vários anos, mais tarde inscreveu-se também na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto onde se viria a formar em engenharia civil.
Foto do Teatro Municipal Rovoli, Projeto de arquitetura e engenharia da responsabilidade de Júlio Brito, propriedade da Câmara Municipal do Porto, situa-se na Praça D. João I e foi inaugurado em 1913 como teatro e em 1932 reinaugurado com as adaptações como cinema. In Wikipédia.pt e editada.
Paralelamente ao ensino, desenvolveu importantes projetos de engenharia e arquitetuta, projectou grandes e pequenas construções, umas mais notáveis, outras dentro dos gostos encomendados. Seguidor do mestre José Marques da Silva, um dos principais responsáveis pela introdução da era modernista na cidade do Porto, Brito soube desenvolver e, nalguns momentos, evoluir em paralelo.
Foto do Coliseu do Porto, Projeto arquitetónico estilo “Arte Deco” resultado da pareceria dos arquitetos Júlio Brito, Cassiano Branco e Mário Abreu, propriedade da “Companhia de Seguros Garantia”, situa-se na Rua Passos Manuel e foi inaugurado em 19 de dezembro de 1941. Foto de Paulo Pimenta in Jornal Público e editada.
Parte da sua obra fica para a História como o Teatro Municipal Rivoli e o Coliseu do Porto, mas também a Faculdade de Engenharia e os Edifícios Garantia (da Rua de Sá da Bandeira, da Avenida dos Aliados e de Famalicão), cujos formulários serviram de paradigma às gerações de arquitectos que se seguiram.
Foto de funcionárias do Sanatório Mont’Alto, é possível observar o aspeto da fachada principal do edifício ainda em funcionamento. In http://portugalparanormal.com, s/d
Júlio de Brito esteve perfeitamente integrado na “Escola do Porto”, movimento caracterizado por um modernismo arquitetónico estabelecendo ligações entre a arqutetura clássica e o “Arte Deco”, potenciadas pelas tecnologias e necessidades atuais. Num entanto nunca abandonou de fato a arquitetura tão apreciada pelo regime do Estado Novo, a “Casa Portuguesa” com caraterísticas ancestrais e intrínsecas da cultura portuguesa. Júlio José de Brito foi um artista do seu tempo, lembrado pela Câmara Municipal, que, por deliberação de 7 de Julho de 1992, atribuiu o seu nome a uma rua da freguesia da Foz do Douro Rua de Júlio de Brito.
Foto de visitantes e familiares de doentes internados no Sanatório Mont’Alto, é possível observar o aspeto da entrada principal do edifício, localizada na lateral e ainda a escola no lado direito. In http://portugalparanormal.com, s/d
Uma das suas primeiras grandes obras viria a ser o imponente Sanatório de Mont’Alto, Inaugurado em 1958, o enorme edifício está inserido numa área de 88.000 metros quadrados, aproximadamente nove campos de futebol,possuía 5 pisos e um recuado, camas para internamento com capacidade de 500 pacientes, para além da imensidão do Sanatório, a área envolvente contava ainda com uma escola, uma lavandaria, uma igreja com acesso interior direto, uma capela e um reservatório de água, todos eles estão hoje devolutos e em avançado estado de degradação.
Foto da Vista Aérea do Complexo dos Edifícios que Integram o Sanatório de Mont’Alto. Foto in avalache-lazer.blogspot.com,num artigo relacionado com o desporto PAINTBALL.
Fachada rpincipal da pequena escola do Sanatório de Mont’Alto, Ruína em 2018
Fachada lateral da igreja em primeiro plano, parte da lavandaria em segundo plano e o reservatório de agua ao fundo em terceiro plano, Sanatório de Mont’Alto, Ruína em 2018
Como já referido anteriormente a ideia da construção do Sanatório no inicio dos anos 30, aparece ligada a fundação da ATNP, o problema é que para alem da demora da sua conclusão, cerca de 26 anos, chega numa altura em que a doença começa a ser tratada em deambulatório, desde 1958 a 1972 podemos dizer que para a dimensão e capacidade do edifício, foi um período de funcionamento muito curto, face ao investimento projetado.
Fachada lateral do edifício e porta principal do Sanatório de Mont’Alto, ao fundo o que resta da pequena escola. Ruína em 2018
A partir dos anos 70, os sanatórios perdem a sua importância com o aparecimento de tratamentos mais eficientes sem necessidade de internamento e por isso tornam-se obsoletos, sendo relegados para o esquecimento: Em 1972, já havia muito poucas pessoas no Sanatório e a grande maioria funcionários do Couto das Minas de Carvão de S. Pedro da Cova, alí muito próximo e também extinto nos anos 70, fruto da descida do preço do petróleo que passou a configurar uma opção mais rentável para a industria.
Atualmente o Sanatório de Mont’Alto;
Fachada do edifício principal do Sanatório de Mont’Alto, Ruína em 2018
Um complexo hospitalar cujo pico de atividade terá rondado os 300 pacientes no inicio dos anos 60, atualmente, relativamente às funções para que fora projetado, já só restam memórias, não se encontram vestígios óbvios de que, um dia, aquele lugar tenha sido um hospital de fato.
Pormenor das janelas da área de serviço do Sanatório de Mont’Alto, Ruína em 2018
5.º Patamar da escadaria principal do Sanatório de Mont’Alto, Ruína em 2018
Vista de cima das pequenas escadas de serviço do Sanatório de Mont’Alto, Ruína em 2018
5.º Patamar, vista parcial da sala principal do Sanatório de Mont’Alto, Ruína em 2018
Corredor de acesso aos quartos do Sanatório de Mont’Alto, Ruína em 2018
Sem uma única porta, uma janela, apenas salas amplas completamente vazias, corredores descaracterizados, casas de banho completamente vandalizadas, ausência de corrimão e caixas de elevadores vazias são traços em comum nos seis pisos que compõem o edifício.
Pormenor da paredes do ultimo andar do Sanatório de Mont’Alto, Ruína em 2018
Terraço da varanda e fachada exterior do piso recuado de Mont’Alto Ruína em 2018
As paredes, principalmente a do ultimo andar, são dos poucos elementos que apresentam alguma vida, cobertas de grafites que embora não combinem com o lugar, conferem alguma beleza artística que talvez um dia tenha tido.
Perspetiva do ultimo andar do Sanatório de Mont’Alto, sobre Gondomar e parte do Porto Ruína em 2018
Vista do ultimo andar do Sanatório de Mont’Alto, sobre Gondomar e parte do Porto Ruína em 2018
Vista do ultimo andar do Sanatório de Mont’Alto, sobre as serras de Valongo Ruína em 2018
O ultimo piso, um recuado já sem teto e com uma ampla varanda a todo o cumprimento do edifico, é talvez a maior atratividade ou a melhor recompensa para quem explora o local, a vista fabulosa que proporciona, num dia completamente limpo, prolonga-se até ao mar.
Capela do Sanatório de Mont’Alto, Ruína em 2018
Interior da Capela do Sanatório de Mont’Alto, sobre as serras de Valongo Ruína em 2018
Igreja do Sanatório de Mont’Alto, Ruína em 2018
Interior da Igreja do Sanatório de Mont’Alto, Ruína em 2018
Também da igreja e da capela não há vestígio de qualquer aspeto artístico original, as paredes destas encontram-se também decoradas ao gosto casual de quem por lá passa e deixa testemunhada a sua arte.
Fachada do edifício principal do Sanatório de Mont’Alto, Ruína em 2018
Não foi apenas o tempo o grande responsável pelo estado de degradação dos edifícios, depois que a instituição deixou de trabalhar com doentes de tuberculose, e com o estrito relacionamento que mantinha com o Estado Novo, depois do golpe militar, os seus edifícios foram saqueados, extinguiram-se os mecenas e o sanatório de Mont’Alto foi-se degradando.
Fachada do edifício principal do Sanatório de Mont’Alto, Ruína em 2018
Após o saque de que foi alvo, ainda é possível encontra objetos pertencentes ao sanatório por várias casas da região, desde camas, cadeiras, de entre outros utensílios. O Sanatório foi também fustigado por incêndios como é possível constatar pelo seu estado débil assim como pelas árvores queimadas nas imediações do espaço.
Pormenor das cosinhas e casas das máquinas do edifício principal do Sanatório de Mont’Alto, Ruína em 2018
Das atividades que caracterizavam o lugar há mais de 50 anos, não há vestígios, muito embora saibamos que a medicina, a religião e o ensino tenham sido atividades de grande relevância para os utentes.
Ângulo da Fachada do edifício principal do Sanatório de Mont’Alto, Ruína em 2018
Hoje o potencial do lugar é explorado por um leque de atividades mais diversificados, a criatividade é o limite de quem visita o lugar.
Foto da organização de um simulacro no edifício do Sanatório de Mont’Alto, Ruína s/d
Foto do Exercício de simulação de situação sísmica na capela do Sanatório de Mont’Alto, Ruína 2015, In verdadeiroolhar.pt
Talvez das mais importantes e com maior interesse para a população em geral, estão os testes e simulacros promovidos pelos Bombeiros e Proteção Civil, apesar de estes provocarem alguns danos acrescidos ao já degradado edifício.
Reflexo do Interior da Igreja do Sanatório de Mont’Alto, Ruína em 2018
Outra das atividades óbvia e com maior intensidade, até pela dimensão e versatilidade do espaço são os grafites, não equaciono a legalidade nem tenciono, o fato é que edifícios abandonados, pelo menos os que visitei, são lugares bastante apetecíveis para a realização desta atividade que nem sempre está relacionadas com a arte, mas não no meu ponto de vista.
Programa da organização de de uma atividade radical no Sanatório Mont’Alto, Ruína, 2018
Parede do corredor de um dos pisos, fustigada com as balas do paintball, Ruina 2018
Ainda dentro das utilizações mais comuns, está o paintball, quem já explorou o lugar e conhece os recantos do complexo consegue perceber o interesse que existe associado para a prática deste desporto, estruturas labirinticas cheias de corredores, aberturas de portas e janelas, edifícios de várias altitudes e o próprio isolamento, são características do agrado dos amantes da modalidade. Várias as empresas “vendedores de experiências” desportivas, promoverem eventos no local. São visíveis nas paredes as pintas coloridas dos disparos falhados do decorrer da “caçada”.
Foto de noiva as ruínas do sanatório de Valongo, s/d, In fotofigueiredo.com
O edifício acolhe ainda, casualmente, fotógrafos de várias áreas de atividade, desde eventos familiares, fotógrafos de moda, fotografia artística entre outras que encontrem potencial nos cenários proporcionados pelo local.
Foto de um dos corredores do edifício principal do Sanatório de Mont’Alto, Ruína em 2018
É também muito conhecido pelo “darck tourism” é mesmo um dos mais conhecidos do país, talvez pela sua atividade associada a morte, tenha popularizado como um local ligado ao mundo sobnatural, certo é que das duas vezes que o visitei reparei em algumas situações evidentes de “atividades” decorrentes ligadas ao oculto mais conhecidas como rituais. Encontram-se com alguma facilidade reportagem filmadas no local sobre o tema, no youtube, por exemplo.
Foto das janelas de um salão do edifício principal do Sanatório de Mont’Alto, Ruína em 2018
Também percebi que no piso térreo, pelo menos, até há bem pouco tempo, o espaço serviu de abrigo para pessoas sem condições financeiras, os vestígios eram bastante recentes.
Foto do ultimo patamar das escadas principais, onde é visível a reconstrução com tijolos da vedação do patamar, edifício principal do Sanatório de Mont’Alto, Ruína em 2018
Toda via é visível alguma manutenção no espaço, claramente é efetuada a remoção de resíduos e também se tenta asseguara a limitação de acesso a locais que possam oferecer maior perigo, como por exemplo o acesso as escadas e poços de elevadores.
Especulação sobre o Sanatório de Mont’Alto;
Captação Aérea efetuada o complexo do Sanatório de Mont’Alto s/d In datario.net
Em cada abordagem que é feita a história do sanatório, são varias as especulações que se atribuem ao futuro do lugar.
Foto das janelas de um salão do edifício principal do Sanatório de Mont’Alto, Ruína em 2018
A ATNP, instituição responsável pela gestão do local, tem uma ambição definida para o complexo, é imperativo promover a sua reabilitação, entendem que o potencial do lugar deverá ser canalizado para a saúde ou o turismo, de uma forma integrada com os cerca de 9 hectares de terreno. Turismo porque beneficiaria toda aquela zona de Gondomar e saúde para ser usado pela comunidade. O Sanatório cresceu com o apoio da população para ajudar as pessoas mais debilitadas e enquanto IPSS, os objetivos de vertente social são prioritários.
Capela do Sanatório de Mont’Alto, vista do terraço, Ruína em 2018
O equacionamento de projetos ambiciosos para o local, pela dimensão do investimento e pelo interesse publico local, passa por parcerias, nomeadamente com a Câmara Municipal de Gondomar.
Fachada lateral do edifício e porta principal do Sanatório de Mont’Alto, ao fundo o que resta da pequena escola. Ruína em 2018
A verdade é que o Sanatório de Mont’Alto continua ao abandono há quase 50 anos e, apesar de terem surgido ideias de alguns projetos na comunicação social local, como um hospital para os retornados do Ultramar ou um hospital psiquiátrico, um lar de idosos também foi uma possibilidade, mas a verdade é que nada avançou e ainda hoje se especula sobre a reabilitação do edifício principal, espero que encontrem uma solução, com maior antecipação face ao eventual estado irreversível de ruína, do que foi a sua inauguração em função dos tratamentos efetivos para a época.
4.º Patamar da escadaria principal do Sanatório de Mont’Alto, Ruína em 2018
Fontes:
portugalparanormal.com/
monumentosdesaparecidos.blogspot.com/
jpn.up.pt/
flickr.com/
Júlio José de Brito, arquitecto e engenheiro civil– um artista no Porto – Manuel de Sampayo Pimentel Azevedo GRAÇA
Foto das janelas de um salão do edifício principal do Sanatório de Mont’Alto, vista sobre o Porto Ruína em 2018
cartaz alusivo ás práticas comportamentais em relação ao contágio da tuberculose. Origem Brasil, s/d
A luta contra a tuberculose no mundo é um exemplo de como um enorme esforço conjunto da humanidade se mostra insuficiente para vencer um mal aparentemente ao seu alcance. A longa história da tuberculose está repleta de imagens quase míticas de epidemias, sanatórios, tisiologistas e agruras tão temidas quanto a morte ali bem se pressente.
“La Miseira” de 1886, Pintura de Cristóbal Rojas (1857–1890) Galería de Arte Nacional, Caracas- Venezuela
Os gregos antigos chamavam-lhe ftíase – consumpção – e assim enfatizavam o definhamento dramático dos casos crónicos.
No final do século XIX, a tuberculose ganha protagonismo com o uma das grandes pandemias, acompanhando o seu acréscimo de perto a revolução industrial. Daí que o subconsciente colectivo tenha representado uma visão debilitadora da doença, a que acresce a associação com degradadas condições sócio-económicas ou com especiais grupos de risco. Por isso o doente tuberculoso é, ainda hoje e tantas vezes, um doente envergonhado.
Selo Com Ilustração Conta a Tuberculose: A cruz de barra dupla, ou a Cruz de Lorena é um antigo símbolo cristão e foi proposta pelo médico francês Gilbert Sesiron como símbolo internacional da luta contra a tuberculose em 1902 na Conferência Internacional sobre a Tuberculose realizada em Berlim em 1902.
Espalhando-se por todo o mundo através da exploração e colonização mas descobrindo-se também o seu agente causador, por Robert Koch em 1882. Esta pandemia perpassa todo o século XX e, apesar de a ciência ter conseguido neste século os meios para vencer este flagelo, medicamentos seguros e eficazes e também o conhecimento pleno da sua propagação, entra mesmo assim, pelo século XXI, ainda com o um dos problema as de saúde pública com maior repercussão em todo o globo.
Antes do aparecimento dos antibióticos, o tratamento da tuberculose era feito de por forma indirecta, na prática, esta doença não tinha cura ou, pelo menos, não se dispunha de um medicamento que atacasse directamente o micróbio que a provocava. A vacina B.C.G. prevista e aconselhada no Programa Nacional de Vacinação, apareceu em meados da década de 20 do século XX, inicialmente com caráter de prevenção, cuja eficácia não era assegura no tratamento de diagnósticos confirmados. Na origem da vacina esteve Albert Calmette em parceria com Camille Guérin no desenvolvimento de um bacilo Calmette-Guérin, uma forma atenuada de Mycobacterium usado na sua produção em 1921.
O Dia Mundial da Tuberculose foi lançado, em 1982, pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pela União Internacional Contra Tuberculose e Doenças Pulmonares.
O surto tem maior impacto a nível mundial, sobretudo nos países mais industrializados, nas duas ultimas décadas do século XIX. Depressa se percebe do elevado grau de contagiosidade desta enfermidade, por todo lado, adota-se como regra fundamental, a separação dos afectados dos sãos, de forma a não agravar a sua já grande disseminação. Começou-se por recorrer às zonas de isolamento dos hospitais cuja capacidade rapidamente se esgotou.
Foto do Sanatório das Penhas da Saúde, igualmente conhecido como Sanatório da Covilhã ou Sanatório dos Ferroviários, inaugurado em 1936.
Medidas adicionais eram necessárias para dar resposta a tal crescente flagelo, para além disto, como se sabia que, em certas zonas geográficas, sobretudo junto ao mar e a grande altitude, a qualidade do ar, associada à exposição solar, tinha efeitos particularmente benéficos na evolução da doença, essas zonas foram escolhidas como as ideais para a construção de hospitais de isolamento especializados, a que se deu o nome de “sanatórios”. Desta forma, um pouco por todo o mundo, surgiriam, desde os últimos anos do século XIX até meados do século XX, tanto sanatórios de altitude, como marítimos.
Retrato da Família Real de Bragança: Rei Dom Carlos I e Dona Amélia
Um dos nomes português incontornáveis, também pelo interesse canalizado para este flagelo da época, foi a Rainha Dona Amélia, esposa do Rei D. Carlos e última a ocupar o lugar em Portugal, fundou a 11 de junho de 1899 o Instituto Nacional de Assistência aos Tuberculosos, dando origem, no início do século XX, à construção de norte a sul do país, de vários sanatórios de altitude e marítimos.
Sanatório Marítimo do Outão, desde 1900 a 1950, antes já era Forte de Santiago de Outão, Casa de Veraneio da Dom Carlos I e Dona Amélia e atualmente Hospital Ortopédico Sant’Iago Outão.
Cada um com um potencial geográfico direccionado para variedades de tuberculose distintas, sendo que os sanatórios de altitude e zonas remotas densamente arborizadas, seriam os mais procurados e os que melhor representam o imaginário de toda uma realidade, cuja circunstancias alteraram mas infelizmente não se extinguiram. Com os avanços científicos, nos finais da década de 40 do século XX, foi possível compensar os tratamentos básicos de repouso, alimentação, terapêutica reconstituinte e bons ares, com melhores medicamentos e a doença começa a ser controlada e tratada em deambulatório.
Cartaz alusivo aos avanços científicos da doença.
A recorrência aos sanatórios começa a ser menor e as suas estadias mais curtas, também aparecem menos casos uma vez que a doença controlada torna-se muito menos contagiosa, inicia-se desta forma aquela que é descrita como a lenta decadência do domínio dos sanatórios, que começaria a ganhar força com o seu progressivo encerramento a partir dos anos 50.
Hospital dos Covões, em Coimbra.
Portugal também não escaparia a esta onda muito positiva. Logo a seguir ao 25 de Abril de 1974, praticamente todos os sanatórios que ainda existiam, muitos deles quase sem nenhum doente internado, acabariam por encerrar. Alguns seriam reconvertidos em novas unidades hospitalares, como o Hospital da Guarda e o Hospital dos Covões, em Coimbra.
Antigo Sanatório Mont’Alto ou Sanatório de Valongo
A maioria, sobretudo os que estavam longe dos grandes centros, seríam votados a um completo abandono, que ainda hoje se arrasta.
Centro de Reabilitação Física do Norte, em Vila Nova de Gaia
Já em 2010, depois de vários anos devoluto, por ordem do governo, viria a ser reabilitado e ampliado o edifico do Sanatório Marítimo do Norte que deu lugar ao Centro de Reabilitação Física do Norte, e que bela reabilitação, tive a oportunidade de conhecer também o interior do edificio (original) projetado pelo arquitecto Francisco de Oliveira Ferreira, que apesar de não ser devidamente conhecido, deixou um belo espolio arquitetónico.
Cartaz alusivo à luta contra a tuberculose, atualmente.
Contudo, Portugal apresenta ainda uma triste realidade quanto à incidência e prevalência desta patologia, mesmo considerando os avanço científicos verificado, a vacinação, o rastreio e a cura através dos fármacos antituberculosos.
Fachada da Ruína da Igreja do Convento de S. Francisco
Rua e Caria, hoje duas freguesias do Concelho de Moimenta da Beira, mas nem sempre assim foi, já foram a mesma, exerceram domínio uma sobre outra e agora independentes entre si, pareço falar de relacionamentos interpessoais.. mas o que é a gestão das povoações se não a vontade, relações e interesses de pessoas? Designada como Vila de Rua, chegou a ser cabeça do concelho de Caria (ou Caria e Rua), formado em 1512, por foral de D. Manuel. Em 1527, o Cadastro da População do Reino refere que a sede concelhia está em Caria, mas na segunda metade da centúria regressa a Rua. O concelho foi extinto em 1855, data em que passou para o concelho de Sernancelhe, sendo anexo ao de Moimenta da Beira por Decreto de 21 de Maio de 1896. Era priorado da apresentação do ordinário e passou mais tarde a abadia, sendo a sua sede na antiga vila de Caria de Jusã, hoje Vila da Rua. Diocese de Lamego.
Igreja Matriz de Moimenta da Beira
Também Moimenta da Beira, se terá fixado outrora, em coordenadas geográficas divergentes das que ocupa hoje em dia, sim, crê-se que Moimenta tivesse existido entre Baldos e Fornos, duas das suas freguesias, onde se teria erguido uma igreja que mais tarde foi trazida para o local onde hoje está edificada, este habito de transferir edifícios “pedra a pedra” é mais comum do que possamos pensar e em épocas também muito variadas. Por vezes, nas localidades mais pequenas e relativamente interiores, a Igreja Matriz acaba por ser um ex-libris fazendo uma população e talvez mais tarde afamada, como foi o caso de Moimenta da Beira. Contudo, foi difícil reconstruir um esquema urbanístico da Igreja Matriz, tal como era há mais de 150 anos. O altar-mor foi construído tal como a tribuna, não coincidindo com a estética anterior, vindo por isso um especialista de Braga para a reconstrução fidedigna. Em 1932 foi construída a torre, que abrigou os sinos do Convento de São Francisco.
Torre Sineira da Ruína da Igreja do Convento de S. Francisco
A imagem de São João, o padroeiro da vila, foi para Braga para substituição da cabeça, porque assim quis a população. O adro da igreja, fora do normal, serve de cemitério, tendo sido construído três anos antes de Moimenta pedir o convento para a sua igreja. Basta juntar vários episódios semelhantes, para perceber como o Convento de S. Francisco chega aos dias de hoje na afirmação de uma “imponente” ruína.
Fonte de S. Francisco e Igreja Matriz da Rua
O Convento da Ordem Terceira de São Francisco terá sido construído no século XV. Existe uma Bula de Fundação do convento concedida pelo Papa Eugénio IV que data de 1443. Na origem da sua fundação, está uma lenda que diz ter sido sobre a fonte que S. Francisco, um pobre de Assis, profetizou, numa das suas caminhadas a Santiago de Compostela, que aí haveria de ser construído um convento em honra dos seus irmãos Franciscanos. E assim foi. Com a construção do convento, essa fonte terá sido deslocada para o adro da Igreja Matriz da Rua, onde existe também um pequeno coreto.
A Rota “francesa” de Santiago, cruzando o norte da Espanha, passava a fronteira em Escarigo, seguindo para Trancoso, e depois para Norte, passando justamente por Moimenta da Beira, a caminho de Lamego. Uma tradição local pretende mesmo que a futura fundação do Convento de São Francisco de Rua tenha sido profetizada pelo santo, que aí passara em peregrinação a caminho de Compostela.
Pelourinho da Rua, que juntamente com a habitação e pátio, foram escolhidos como representantes modelo da “Casa Beirã”
Esta representa a existência da ordem franciscana na região e a monumentalidade da freguesia, nomeadamente no Pelourinho da Rua de arquitetura manuelina, um belo exemplar, onde a presença de vieiras parece sugerir uma alusão ao Caminho de Santiago de Compostela. O Convento foi um dos primeiros a ser fundado da Ordem Terceira Secular em Portugal, com uma pequena igreja, campanário e dormitórios. Neste local passaram a realizar-se celebrações litúrgicas e atividades ligadas à igreja.
Monumento em Homenagem a Manuel A.C. Campos e Maria de Sá campos, pais do antigo Senhores desta Quinta, Amândio campos
Eram os frades que ali viviam que sacrificavam as suas vidas em prol dos pobres, dos desamparados, durante séculosa até as reformas liberais. Era, também, o lugar preferido para último repouso das famílias principais, a que nem sempre reagiu com agrado o reitor da paróquia ruense. Pouco se sabe acerca dos quantitativos da comunidade franciscana de Caria. Neste particular, sabe-se apenas que em 1587 o abade de Alcobaça, frei Guilherme da Paixão, visitou a Terceira Ordem de S. Francisco, encontrando no convento de Caria 17 frades. A ordem foi extinto em 1834 e adquirido por Amândio Campos em 1919 a Margarida Nápoles Alpoim, sem um projeto expecifico para todos os edifícios da quinta, de exploração agrícola, é na arte sacra que se inicia uma pilhagem das suas pertenças que culmina com o inicio da sua gradual degradação.
Tanque e fonte do jardim da Quinta.
Neste momento o convento pertencente à Efore-Beiras – Empresa de Formação e Ensino de Moimenta da Beira, Lda e integra património arquitetónico e agrícola da bela “Quinta do Ribeiro”. O nome “Quinta do Ribeiro”, termo relativamente recente, esta na origem de um pequeno curso de água ou nascente que alí emerge, já a quinta em si tem origem na anexação da Quinta do Paço(Paço dos Bulários), dos senhores de Távoara, doada aos frades da Ordem Terceira de São Francisco pelo rico e nobre Pedro Gil para a erecção de um convento o qual aí se fundou dando posse da igreja aos religiosos que nela celebraram a primeira missa em 28 de Agosto de 1445, dia de Santo Agostinho.
Aquilino Ribeiro (1885-1963)
Esta Quinta serviu de cenário a uma obra e ficção de Aquilino Ribeiro (A Via Sinuosa). Na Casa de Aquilino, existe um quadro alusivo às ruínas do Convento, assim como pinturas, esculturas alusivas, em alguns casos, a São Francisco e a outros Franciscanos. Aquilino Gomes Ribeiro(1885-1963), natural do Carregal da Tabosa, Concelho de Sernancelhe, filho de um padre e de uma camponesa, preso acusado de “anarquismo”, estuda em París na faculdade de letras, não termina a licenciatura, regressou derivado a problemas relacionados com a Guerra Mundia, lecionou mas é na escrita que se destaca, considerado por alguns como um dos romancistas mais fecundos da primeira metade do século XX. Iniciou a sua obra em 1907 com o folhetim “A Filha do Jardineiro” e depois 1913 com os contos de Jardim das Tormentas e com o romance A Via Sinuosa, 1918, e mantém a qualidade literária na maioria dos seus textos, publicados com regularidade e êxito junto do público e da crítica.
Miradouro da Quinta
Descrita por Aquilino como num dos ex-libris das também por ele batizadas “Terras do Demo” o Convento de S. Francisco localiza-se num dos dois extremos mais altos da encosta que circunscreve a quinta, na outra extremidade um colossal miradouro, que justifica qualquer exagero ficcionário da narrativa literária que o escritor lhe inspirou.
Fachada da Ruína da Igreja do Convento de S. Francisco
Reminencias criativas à parte, as fotos que acompanham esta tentativa de narração histórica, pretendem transcrever, quanto seja possível, a beleza que ainda descreve cada recanto do lugar.
Pormenores do jardim da quinta
“Atravessada a quinta por esta via, reclina-se suavemente pela encosta, numa compilação florística, hoje muito diferente do que já foi. Arvoredos verdejantes e floridos com matagais, em doces emanações de frescura que as águas brotam e deslizam a seus pés, e leiras fecundas onde outrora cresciam mimos pujantes e hortas viçosas. Bonita e bem lavada de ares constantes, esta é uma quinta de quietude patriarcal, de viver provinciano. O pronunciado declive tem um pico, onde se ergue altaneiro e senhoril um miradouro, que olha das alturas a líquida fita coleante que se alonga por entre alcantis agrestes e prados verdejantes. Daí lobrigam-se sem fusco, serranias churras, pinheirais, cristas pedregosas e ainda vários povoados.”
Capela da Quinta
“Olhando em redor aprisionam-se os sentidos e por ali ficamos, estáticos, como sôfregos na retrinca. Cada recanto de feição rural revela a ancianidade do local. Olhar para estas aguarelas com olhos de ver, é viajar por várias dimensões e rememorar as idades esquecidas, os legados que ainda não findaram. “
Tanque e fonte do jardim da Quinta.
O espaço é bastante generoso e arquitetónica diversificado, embora não possa precisar a construção de cada uma da estruturas, é certo que não foram todas edificadas nas mesmas épocas, além do convento, com duas estruturas físicas, a igreja e casa residencial dos frades, ambos em ruínas, proliferam ainda distribuídos funcionalmente por este espaço fértil, um solar, o Paço dos Bulários com vários anexos transformados em Escola Profissional Tecnológica e Agrária, além de um belíssimo tanque, algumas fonte, um pombal a capela de Nossa Senhora da Conceição, e vários outros apontamentos menores na sua dimensão, mas não em importância, vários arcos, escadas, varandas cuja seus contornos caracterizam os jardins e a distribuição arvorica.
Pormenores do jardim da quinta.
“Louçainho de ricos pormenores de antanho que o mugre fétido parasitamente procura elidir, possidente, o convento encontra-se, hoje, em sepultura de vala aberta. O esqueleto que dele resta está apossado da sôfrega natureza, rubuste milhafre que o abocanha e suga. Sem suficiência, porém, para esconder ricos pormenores de antanho que a incúria do tempo e dos homens não conseguiu letificamente fazer ruir. Da igreja avulta, de nariz arrebitado, altaneira e senhoril, uma torre sineira de três secções verticais que se elevam da base através de colunas de pedraria uniformemente talhada, que suportam o peso de todo o conjunto.”
Fachada da Ruína da Igreja do Convento de S. Francisco
“Com janelas circunferenciais e quadrangulares de pequena bordadura granítica exterior, destinadas à luminescência, sobressai o derradeiro elemento seccional, cimeiro, ligeiramente mais estreito, como aquele que mais ornatos permite esquadrinhar. Os quatro cunhais de pilastras quadrangulares, onde convergem as paredes deste elemento seccional quadrifacetado, terminam em jeito de capitel onde assentam quatro lintéis que servem de base ao telhado de cujos vértices saem quatro gárgulas em forma de corneta. Cada uma das faces desta torre possui quatro aberturas em janela pronunciada de onde se vislumbravam e irradiava a equissonância de sineiras composições.”
Pormenor da porta principal da Ruína da Igreja do Convento de S. Francisco
“O resto da igreja apresenta-se sob duas faces. A do meio, contígua à torre, assume a centralidade do edifício. A reentrância do portal de ampla quadratura inicia-se com arco de três arestas ladeado de cunhais encimados de remate. Segue-se uma portentosa janela rectangular com bordadura exterior, como todas as outras do edifício, por onde se fazia a iluminação do interior. Ombreia com duas outras, igualmente de traçado rectangular mas com menor área, que estreitecem para dentro, isto é, com traçado oblíquo na espessura da parede em jeito de lancis de quebra-luz. Termina o conjunto em telhado triangular de face ornada com arco semi circunferencial a guardar nicho granítico de traçado esbéltico, assente em base saliente e suportado por pequenas colunas de base fuste e capitel, destinado, por certo, ao patrono. A outra face, no cerne de dois poderosos cunhais, autênticas longarinas, comporta um portal robusto, de menor área do que o anterior, em conjunto quadrangular encimado de janela circunferencial elevada a cerca de 6 metros.”
Citações do meu conterrâneo e também contemporâneo de Escola Dr. Joaquim Dias Rebelo (Homenagem a titulo “Pretumo”), Dr. Jaime Gouveia em “A História da Nossa Terra”, 30 de março de 2013
Ruína da fachada da Casa dos Frades da Ordem Terceira de São Francisco
Em completo abandono, restam apenas as ruínas da igreja, onde sucintamente é visível uma fachada em granito, característica própria do modo de vida da Ordem que lhe deu origem, pobre e modesta todo o edifício apresenta ainda pequenos elementos decorativos, com algumas referências classicistas e uma torre sineira. Existe também um outro edifício anexo,mais recente de traça barroca – a Casa dos Frades da Ordem Terceira de São Francisco.
Ruínas de edifícios anexos
Hoje restam as memórias e lendas que por ali passaram.
Prato exemplificativo do aspeto da Marrâ
E são muitos os que por alí passam e param de quando em vez, é realizada uma feira anual que assinala o fim das colheitas, num largo com o mesmo nome e em honra do patrono do convento, S. Francisco, esta feira é realizada, pelo menos, desde 1664 data em que aparecem relatos em manuscritos relativos à congregação, é popularmente conhecida como a feira da “Marrã” cujo termo, muito antigo, designa a bácora que já deixou de mamar ou simplesmente a sua carne. Marrã, também popularizado em outras feiras pelo pais, cuja variedade vai de encontro às tradições gastronómicas da região, “nós por cá”, vulgo carne de porco ou torresmos, são os mais comuns.
Bom apetite!!!
Ruína da Torre da Igreja e da fachada da Casa dos Frades da Ordem Terceira de São Francisco
Fotos:
As fotos não assinadas foram retiradas das fontes ou de outros sites.
Postal Ilustrado(editado) do Antigo Restaurante Chalet da Trofa, s/d
Começo pelo Restaurante Chalet, porque foi o que primeiro me despertou a atenção depois da Velha Estação Ferroviária já restaurada.
Postal Ilustrado(editado) da Estação Caminhos de Ferro da Trofa, ainda em funcionamento, s/d.
Todo a área envolvente à antiga estação, desde a desactivação das linhas em 2010, está a ser alvo de uma profunda intervenção, espero que a requalificação já efectuada dê seguimento também aos restantes edifícios de comércio e habitação circundantes, que apresentam sinais de avançado estado de degradação e alguns já em ruínas.
Foto das obras de reabilitação da antiga Estação desativada, por traz da estação a todo o comprimento podemos observar uma série de edifico, todos degradados, incluindo o pequeno chalet, que também se pode ver na imagem,
Ainda antes da construção da antiga estação, o lugar já era um centro de atividades com alguma intensidade, que justifica o aparacemimento de pequenos edifico de comércio e habitação, entre eles o pequeno mas não menos charmoso Restaurante Chalet, deve ter sido com toda a certeza um lugar bastante acolhedor não só para saborear as comidas da terra, mas também para descontrair e trocar “duas de letra” com os conhecidos que casualmente cruzavam o espaço.
Foto do Restaurante Chalet, da Trofa, esta foto foi tirada já depois de 2010.
Configurava um belo recanto da cidade, outrora um largo, hoje a Rua Américo Moreira da Silva, entre a antiga estação dos Caminhos de Ferro e o ainda mais antigo Restaurante Chalet, representa um cenário que parece imergir de duas realidades paralelas, se por um lado contemplamos a requalificação da estação e edifícios anexos para utilização fundamentalmente cultural e de lazer, do outro lado temos uma série de edifico com identidades muito diversificadas, que partilham em comum o mau estado de conservação.
Foto das obras de reabilitação da antiga Estação desativada, por traz da estação a todo o comprimento podemos observar uma série de edifico, todos degradados, incluindo o pequeno chalet, que também se pode ver na imagem,
Não sou habitante da cidade nem tão poco conhecedor profundo das politicas do Ordenamento do Território e Urbanisação da União das Freguesias de Bougado (São Martinho e Santiago), pelo pouco que pesquisei, a zona envolvente as Alamedas da Estação, vem sofrendo constantes alterações, mesmo antes da existência da mesma.
Igreja de São Martinho de Bougado, Igreja Matriz da Trofa
Curiosamente, o atual edifício da bela Igreja de São Martinho de Bougado, Igreja Matriz da Trofa, nasce também de um restauro e aumento, efetuado em 1916, com origem em uma pequena e antiga igreja edificado no local, cuja data de inauguração remonta a 1780 pelo então o Abade Manuel Joaquim de Oliveira.
Foto de uma porta da fachada principal do Restaurante Chalet.
Muitos outros edifícios existiram do local, foram demolidos para dar lugar a outros que possam melhor potencial a sua localização, nomeadamente a Serração António Sampaio e a antiga Central Eléctrica que durante muitos anos forneceu energia para a cidade, situavam-se onde hoje encontramos os novos edifícios de habitação da Rua de S. Martinho, também as antigas fábrica de chapéus de pelo e fábrica de tecidos Abílio da Costa Couto, importante personalidade da cidade, que por reconhecimento lhe atribuíram o nome de uma rua, foi demolida para dar lugar às já também remodeladas instalações da Ráfia.
Foto da sede da Vigent Group, Antiga Fábrica da Ráfia, 2018
Ainda na sequência do encerramento das linhas, o Vigent Group , dono da Metalogalva e da Brasmar, comprou as instalações da Ráfia, empresa Fabril da Trofa, um reconhecido edifício industrial do século passado, foi reabilitada e modernizada para acolher todas as equipas dos serviços corporativos deste grupo, inaugurado no final de 2018.
Foto do Restaurante Chalet, da Trofa, decorridos relativamente poucos anos, após o devoluto do edifício, são visíveis os sinais de avançada degradação, 2018
Em 2016 foi apresentado um Programa Estratégico de Reabilitação Urbana (PERU) do Núcleo Central da Cidade da Trofa que indica a intenção do caminho a traçar pelo Município em relação as politicas a implementar na Área de Reabilitação Urbana (ARU), foi efetuado um levantamento dos pontos críticos, e estipulado um horizonte temporal limitado até o ano de 2025, para concretizar o plano, já foram dados alguns passos fundamentais no sentido da sua materialização. Sob orientações emanadas do Plano Diretor Municipal (PDM), em vigor desde Fevereiro de 2013, o presente PERU corporiza também uma das apostas políticas de maior alcance estratégico que se encontram a ser prosseguidas pelo atual Executivo camarário.
Foto da varanda, 1.º andar do Restaurante Chalet da Trofa
Fontes: Programa Estratégio de Reabilitação Urbana do Núcleo da Cidade da Trofa, Município da Trofa, IMPROVECONSULT – CONSULTORIA E ESTUDOS, LDA., 2016.
A vinte e poucos de dezembro de 2018, foi descontraidamente passear pelo estuário do Duro, com a maquina fotográfica em punho tentando perceber as melhores oportunidades de a poder usar, entre elas tinha em mente fotografar o Palacete Marques Gomes que é sobranceiro ao estuário, da Rotunda do Largo de Linhó, sobe a rua com o mesmo nome e na outra extremidade numa outra rotunda, estamos de frente à entrada da quinta, de onde podemos avistar logo o imponente palacete.
Tinha visto fotografias das suas ruínas em vários lugares, pela net, e gostava também de lhe poder “tiras as medidas”. Se é certo que a vida dos homens é mais curta do que a das casas que constroem, também o é que estas exigem alguns cuidados de preservação e restauro, quase sempre proporcional à sua dimensão.
No início do século XX, Marques Gomes fez fortuna no Brasil. A casa grande que mandou edificar, sobranceira à barra do rio Douro, prestou o serviço que lhe competia até que, ao fim de cerca de trinta anos, não resistiu à desarticulação da estrutura familiar que a justificava. As matas foram tomando conta do antigo montado, absorvendo as espécies exóticas e as plantações ordenadas. E o abandono marcou indelevelmente a arquitectura do lugar. Até que, a ruína, o fogo e a pilhagem destruíram o cenário da memória possível.
De encontro a essas ruínas de poucas memórias, eis que me deparei com uma coisa que não é muito habitual, para meu espanto, e contra as minhas espetativas (pensei que já nada restasse do edifício), encontrei este praticamente restaurado, no seu esplendor do que foi outrora. Foi pesquisar e percebo que a Quinta Marques Gomes, está inserida num projeto que visa o desenvolvimento de um empreendimento residencial de luxo, composto por vários edifícios de habitação coletiva, zona de moradias geminadas e isoladas, edifícios de escritórios, um lote destinado a uma escola e outro a um supermercado, bem como o desenvolvimento de um projeto de reabilitação do palacete existente e uma zona de estar (com health club e business center).
Uma daquelas poucas vezes em que se fica satisfeito, por vez frustradas as nossas espetativas, são de louvar iniciativas como esta!
Estas casas pertenceram a uma família denominada “Vianas”, o nome associado á família esta relacionado com a sua origem, as suas raízes são de Viana do Castelo.
Com uma óptima localização, no extremo da Rua do Carmo que é das mais antigas (mediaval) e históricas ruas de Penafiel. Emblemática pelos edifícios e património que contém e sua carateristica bairrista esta rua compreende-se entre a Igreja Matriz, passando pela Igreja da Nª Sª Carmo até ao entroncamento da Avenida de São Roque com a Avenida Tomás Ribeiro. Era também aqui que se situava o antigo colégio do Carmo, e onde nasceu o Baile dos Pauzinhos.
Foto das traseiras da habitação e do quintal.
A casa fechava o gaveto entre o final da Rua do Carmo com o também final da Avenida Tomás Ribeiro, encontra-se desabitada há muitos anos e foi recentemente vitima de um incendeio que danificou uma parte da habitação.
Foto da fachada e entrada da fábrica dos colchões.
Acolheram em suas dependências o negócio de família, uma pequena fabrica de enchimento de colchoes, numa época em que era feita com folhelhos.
Foto de uma espiga de milho, depois de escaneada, as folhas eram tratadas para os enchimentos.
Feita a desfolhada, e seguindo o princípio de que nada se perde, lavavam-se cuidadosamente, as frágeis folhas que até aí envolviam o milho, e colocavam-se, imediatamente a secar debaixo do sol, que por essa altura já brilhava em dose generosa.
Depois de secas eram então desfiadas e entregues a mulheres que se tinham especializado no encher dos colchões. A intervalos esse folhelho era retirado,e repetia-se a operação de lavagem e enchimento, até que nova colheita do cereal permitisse a sua renovação…
Foram várias as vezes que passei em frente á pequena loja, nunca tive o prazer de entrar nem tão pouco conhecer a família que dá andamento ao negócio. Simplesmente, simpatizo com com a simplicidade destas pequenas lojas, exclusivas do ganha pão da família, seguem de geração em geração como passagem de testemunho da veia de comerciante normalmente alimentada desde tenra idade. Da curiosidade á fotografia, da fotografia á pesquisa, et voilá, esta loja foi fundada pelo Sr. Hernâni Pinto Fernandes, falecido a 7 de Outubro de 1993, hoje o negócio é tocado pelo filho Hernâni Torres Fernandes que deu continuidade à gestão da empresa, mantendo vivo o negócio iniciado pelo seu pai, pautando os seus serviços pela qualidade, profissionalismo e competência. A Drogaria da Várzea, tem mais de 75 anos de existência, sem conseguir precisar o ano exacto de abertura, saber-se que pelo menos esses foram os anos a fortalecer a imagem de prestígio e qualidade tanto no serviço prestado como na vasta gama de produtos, marcando o progresso do mercado local.
Drogaria da Várzea
Comércio local, de proximidade ou de rua, são os termos que melhor descrevem a a essência deste tipo de lojas e que justificam a sua longevidade mesmo após a abertura de novos estabelecimentos de oferta e dimensões bem mais generosas, mas que de fato, não tem lugar neste conceito nem satisfazem as necessidades de proximidade. Também muito descrito como comércio tradicional, talvez a designação mais comum, para identificar o pequeno comércio, é muito frequente o comércio tradicional estar associado a uma forma antiquada, pouco dinamizada ou mesmo desatualizada.
Drogaria da Várzea
As ruas mais importantes das localidades ainda continuam a ser aquelas que foram desenvolvidas a partir do pequeno comércio de retalho, as pessoas têm presente as memórias dos lugares mais movimentados da sua vila ou cidade e isso representa um património insubstituível. Um bom indicador de que o comercio tradicional é um comercio do futuro, não obstante a procura pelos residentes, é sobre tudo a procura pelo turismo, e nos faz perceber realmente a sua importância, o comércio tradicional representará sempre uma relação de proximidade que não existe em outro tipo de comércio e não é apenas uma proximidade geográfica mas também pessoal. Estou em crer que o sucesso passa por uma relação de “simbiose”, entre a tradição e a inovação, a capacidade de surpreender sobre tudo os “novos” consumidores, é sem sobra de dúvida o grande desafio.
Foto editada da Torre-Cavalete, MIN – Monumento de Interesse Nacional desde 2010
Perde-se, pois, nos tempos históricos a fundação medieval da hoje Vila de S. Pedro da Cova. De cariz profundamente agrícola, ela torna-se um centro industrial de grande importância após a descoberta, do carvão e antracite em 1795, mas só nas primeiras décadas de 1900 é que a exploração das minas atingiria o o pico, com uma extração de cerca de 330 mil toneladas por ano.
Foto das escadas do Cavalete da mina de carvão
O carvão era transportado para o Porto, mais concretamente para o Monte Aventino (zona das Antas), em pequenos vagões, suspensos por um cabo aéreo, com nove quilómetros de extensão. No regresso, as vagonetes paravam na estação de Rio Tinto para carregar a madeira que servia para escorar as paredes subterrâneas.
Foto de algumas das ruínas relativas aos armazéns de e estaleiro de carga.
Tornou-se então um centro catalizador de migração. Várias gerações de trabalhadores fizeram desta terra o seu ganha-pão, contribuindo assim para um ascenso demográfico assinalável. Isolada que estava, apesar da proximidade do Porto, viu rasgarem-se novos horizontes e o nome de S. Pedro da Cova, começa então a ser conhecido em Portugal como “Terra Mineira”.
Foto de Eletrico igual ao que percorrias as linhas entre o Porto e s. Pedro da Cova.
Como consequência surge a primeira ligação de transportes ao Porto, com a construção da linha do elétrico, proporcionando um contacto mais regular com uma nova realidade, consubstanciada na grande cidade. Nos tempos áureos, as minas davam trabalho a gente do Douro Litoral, Minho e até do Alentejo. Chegaram a empregar mais de 1800 pessoas, entre homens, mulheres, rapazes e raparigas. De um dia para o outro, acabou tudo. A baixa dos preços do petróleo traz a crise e as Minas fecham a 25 de março de 1970.
Foto da entrada na Torre-Cavalete
Quase 50 anos depois, S. Pedro da Cova é um dormitório da Área Metropolitana do Porto, freguesia praticamente estagnada, com poucas aspirações e muitos dependentes do Rendimento Social de Inserção. O espírito de união e a identidade dos que ali viviam (“quase toda a gente tinha alcunhas”) foi-se diluindo. São cada vez menos os que carregam memórias do tempo das minas.
Foto de pormenor da extremidade da Torre -Cavalete de S. Vicente.
Paradoxalmente, as populações, que julgariam perdidas todas as esperanças de vida, integram-se perfeitamente num mundo laboral novo, completamente diferente do seu. Fica para trás o atraso secular então reinante e novas perspectivas se abrem com melhores condições. Com a evolução dos tempos vai surgindo um novo tipo de operariado e de serviços. S. Pedro da Cova deixa de ser fechada para se abrir ao mundo exterior e, passo a passo, dilui-se na grande área Metropolitana do Porto, passando a ser um autêntico dormitório da cidade. Simultaneamente, novas indústrias como a Ourivesaria, a Metalomecânica, Mobiliário, Maleira, Elétrica, Comércio e até Serviços vão aparecendo.
Foto da ruína da fábrica.
Passou praticamente meio século, desde o fecho oficial das minas e começam a escassear as memórias que possam transmitir o seu testemunho vivo em primeira pessoa, daquele que terá sido o acontecimento com maior impacto económico, financeiro e social, na região, mas com repercussões geográficas bastante mais alargadas a nível nacional. O encerramento das minas trouxe consigo um silencio entristecedor e uma já não boa melancolia que por sí só também não consegue encubrir o desalento e o derrotado espírito das pessoas que já não se fazia sentir há mais de 100 anos, a falta do som de máquinas a trabalhar, do carvão a encher as vagonetes, a sirene a chamar operários, os veículos rodoviários e ferroviários que percorrias as ruas da vila, assim como os transportes de tração animal, os cestos cheios de carvão que desfilavam pelos cabos suspensos nas linhas até ao Porto, tudo isto fazia parte de um passado recente, cuja feridas ainda cicatrizam.
Foto exemplar de uma Vagoteta ou como também designavam de “Berlinas”.
Para alem das memórias, dos que morreram suterrados, os muitos mineiros deparam-se agora com as maleitas consequenciais de muitos anos em contato com produtos nocivos, diagnósticos de sequelas irreversíveis nos pulmões. Foram esses que sentiram na carne o trabalho sacrificado, a dificuldade em empurrar as vagonetes, chamadas berlinas, totalmente cheias, chegando cada uma aos 700kgs, ou seja a equivalência a 7 “pirus” designação dos carros que transportavam o carvão.
Foto de um gasómetro, Objeto em visas de extinção.
Os mineiros com um gasómetro desciam até às profundas minas autenticas galerias hiantes e escuras,por uma espécie de elevador ou gávea onde trabalhavam expostos ao excessivo calor e humidade, sem ar respirável e ainda sujeitos à poeira do carvão causadora da silicose, doença profissional crónica, por inalação de sílica. Quanto às mulheres, também altamente sacrificadas trabalhavam afincadamente no empurrar das berlinas e na função de escolhideiras do carvão, separando o de mais brilho que era o melhor. Havia também as britadeiras que de joelhos em frente dos tanques de lama executavam bolas.
Foto de Edificio habitacional das minas em ruínas.
Em sinal de apoio a estes trabalhadores foi construído um Bairro Mineiro do qual faziam parte as Casa de Malta, com 2 pequenos quartos e uma cozinha,uma mercearia, escola, farmácia, um campo de futebol e uma espécie de salão recreativo. Aí viviam os mineiros com suas mulheres e filhos que a partir dos 14 anos eram obrigados a ir trabalhar para a mina, pois se houvesse recusa a habitação era-lhes tirada. E ainda hoje, duas das mais ativas instituições da freguesia, a banda de música e o clube de futebol, foram uma criação desse sistema no qual a empresa mandava em tudo.
Foto de um chapéu objeto do fardamento de um mineiro.
Era assim a vida miserável das “toupeiras humanas”,nome que teve origem no livro de Emile Zola o “Germinal” que tão bem e minuciosamente descreve este clã, ou não tivesse o próprio autor vivido numa mina para aquilatar esta desumanidade de vida.
Capelinha de Santa Barbara, Padroeira dos Mineiros.
Valha-les Santa Barbara, mesmo em dias de trovoadas ausentes ou de poucas explusões, a imagem da padroeira, retirada do fundo da mina quando a exploração cessou, foi entretanto recuperada, a imagem foi transportada para o exterior pelos últimos mineiros a deixar o subsolo. Hoje, a mesma imagem encontra-se numa pequena capela junto do antigo complexo mineiro. Desde há alguns anos para cá, a 4 de Dezembro, retomou-se a tradição da procissão, realiza-se a Procissão de Velas em Honra de Santa Bárbara, Padroeira dos Mineiros.
Foto editada da Igreja Matriz de S. Pedro da Cova
Quando desce de Gondomar até S. Pedro da Cova, com alguma facilidade, por entre a paisagem das suas encostas, arvoredo e a bela torre sineira, consegue também desfrutar das belas ruínas que emergem pelo meio da vegetação, como quem quer apelar pela memória de sua existência.
Foto da ruína da capela da mina.
A Torre-Cavalete ergue-se por traz da capela, quase em ruína, à espera que alguém a recupere e o transforme num museu vivo, com possibilidade de descer à mina e experimentar a sensação de “trabalhar enterrado”, como os mineiros diziam.
Foto da Torre-Cavalete de S. Vicente
Esta Torre-Cavalete do Poço de S. Vicente é, não obstante o seu estado de degradação, o Ex-Libris de São Pedro da Cova, classificado como MIP – Monumento de Interesse Publico, com proteção legal pela Portaria n.º 221/2010, DR. 2.ª Série, n.º 55, de 19-03-2010.
Foto da Torre-Cavalete de S. Vicente
A Torre -Cavalete é um dos elementos edificados mais relevantes para a conservação da memória histórica das minas de carvão, simboliza o período áureo da exploração das Minas de Carvão a que está definitivamente ligada a história da Freguesia de São Pedro da Cova que desde a descoberta, em 1802, das Minas de Antracite se tornou num centro catalisador de migração.
Foto da Torre-Cavalete de S. Vicente
É um notável exemplo de construção industrial, pelas suas dimensões, 38,5 m de altura, por ser construído em betão armado o que é raro no seu tempo e também pela sua localização. O departamento de minas da Faculdade de Engenharia do Porto esteve de uma forma muito especial ligada a esta obra, utilizando frequentemente as instalações para estudos específicos. Para homenagear esta obra o departamento de minas da Faculdade de Engenharia, escolheu o desenho do Cavalete para “logotipo” do seu papel timbrado.
Foto do Museu Mineiro de São Pedro da Cova , antiga Casa da Malta.
Um dos outros edifícios destinados à perpetuação das memórias da mina é a Casa da Malta, assim designada por nela habitarem os trabalhadores oriundos de outras regiões do país, com o fecho das minas, surge a intenção de cristalizar a memória produtiva em um museu, 1.ª ‘Casa da Malta’, constituindo, na verdade, em 1989 o único núcleo museológico deste tipo em Portugal, também esta classificado como MIP – Monumento de Interesse Publico, pela mesmo portaria, pela designação inclusiva “Cavalete de extracção de carvão e instalações do poço de São Vicente da Mina de São Pedro da Cova, incluindo a casa da Malta”. o Museu Mineiro de São Pedro da Cova tem como missão valorizar, dinamizar e divulgar o seu património mineiro e geológico.
Foto da Zorra preservada à espera de restauro.
À porta está parada e à espera de conseguir fundos para ser reabilitada uma zorra, carro eléctrico que transportava carvão para a central termoeléctrica de Massarelos, no Porto, onde hoje é o Museu do Carro Elétrico.
Foto do Museu do Carro Eléctrico , antiga Central Termo-Eléctrica de Massarelos
Central Termo-Eléctrica de Massarelos. Hoje, parte das instalações são o Museu do Carro Eléctrico, “A Recolha” e presumo que ainda estão guardadas e em perfeito estado muita da maquinaria e fornos utilizados à época.
Foto das ruínas dos armazenes de depósito do carvão para britar.
Em 2001, mais de 200 mil toneladas da Siderurgia Nacional foram depositadas nas antigas minas daquela localidade de Gondomar, com autorização a Camara Municipal de Gondomar, por serem considerados residuos inertes e sem grandes implicações ambientais. Um estudo do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) confirma que os resíduos são de facto muito perigosos.
Foto da plataforma da Torre-Cavalete, para entrada no Poço de S. Vicente.
Entre outubro de 2014 e maio de 2015 foram retiradas 105.600 toneladas, mas entretanto foi revelado que existem mais resíduos, tendo sido anunciado no local, a 24 de março do ano passado pelo ministro do Ambiente, que o concurso público com vista à remoção total das 125 mil toneladas que restam seria lançado em julho e a empreitada levada a cabo em 2018.
Foto da parte superior de depósitos de carvão.
Foto da parte inferior de depósitos de carvão, por onde saia o carvão para britar e carregar as berlinas.
A Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte revelou que o concurso público internacional para a segunda fase da remoção dos resíduos acolheu sete propostas. O Ministério do Ambiente anunciou a alocação de 10 milhões de euros do Fundo Ambiental para a remoção definitiva de 125 mil toneladas de resíduos perigosos. Entre outubro de 2014 e maio de 2015 já tinha sido feita uma parte da limpeza mas ficou bastante aquém da solução definitiva que se pretendia para o problema.
Foto da estrutura envolvente á Torre-Cavalete de S. Vicente.
Segundo garantiu o ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes, foi lançado um concurso público para apar até o final de 2018, os resíduos estarem totalmente removidos de S. Pedro da Cova. Segundo o Presidente da União de Freguesias de Fânzeres e S. Pedro da Cova, Daniel Vieira, Neto de Mineiros, para além do processo de remoção havia um compromisso do governo relativamente à questão da monitorização ambiental e que existe uma garantia de que a contaminação das estruturas circundantes não chegou a acontecer, apesar de o risco ser real.
Foto de ruínas de um edifício habitacional, e grande plano da Torre-Cavalete de S. Vicente.
Também segundo o Presidente da União de freguesias, para além do plano ambiental, há um objectivo claro de requalificar esta zona no plano cultural por constituir um exemplar único da história industrial mineira, não haverá melhor compensação do que a requalificação desse património e respetiva devolução à população, para que também ali pudesse ser criado um pólo atrativo turístico e cultural para preservação da memória.
Foto do cais de carga, grande plano do armazém de depósito e do carvão e da Torre-cavalete
Na realidade, quem vai espreitar o que outrora foram as minas, leva um enorme choque pois tudo não passa de uma carcaça, um rico património da arqueologia industrial destruído, à boa maneira portuguesa. Ainda é possivel um Museu, recuperando o que ainda há, melhorando o espaço, construindo pavilhões para exposições temporárias e permanentes,sala multimédia, auditório, percurso histórico com guias ligando as minas à Casa da Malta ( actual Museu)e aos bairos mineiros, criação de um Centro de Documentação e Investigação, sala de convívio,estabelecer protocolo com as Escolas de forma a inserir alunos e professores no projecto, etc, de forma a ligar de novo o espaço à comunidade e até ser uma fonte de receita.
Foto das ruínas dos balneários.
Fotos das ruínas de um edifício habitacional.
Em ruínas e ao abandono, o balneário, a farmácia, os escritórios, a cantina, a portaria, são apenas algumas das peças de um passado escrito com o carvão descoberto em 1795.
Foto das ruínas da portaria das minas.
Quanto ao Museu Mineiro, instalado na antiga Casa da Malta onde os mineiros vindos do Douro Litoral, do Minho e até do Alentejo eram acolhidos, reúne ferramentas, a maqueta de uma galeria subterrânea, cadastros de ex-trabalhadores, entre outros espólios, e faz, sobretudo a comitivas de escolas, visitas guiadas.
Foto de grande plano, do lado norte, dos edifícios mais elevados do complexo das Minas de Carvão de S. Pedro da Cova, Gondomar
Decorria o ano de 1138, um ano antes do final do seu condado, D. Afonso Henriques, doa S. Pedro da Cova ao Bispo do Porto, Pedro Rebaldis, sucessor do famoso Bispo do Porto D. Hugo. Em 1379 a doação foi confirmada por D. Afonso III do Couto de S. Pedro da Cova no julgado de Gondomar.
Foto de grande plano, do lado sul, dos edifícios mais elevados do complexo das Minas de Carvão de S. Pedro da Cova, Gondomar
Com a extinção dos Coutos em 1820, passou a ter a categoria de concelho que viria a ser extinto em 1836. Tinha, em 1801, 697 habitantes. Com a extinção do concelho de São Pedro da Cova, a povoação passou a fazer parte do município de Gondomar.
Foto do Edifícios dos reservatórios da pedras de carvão do complexo das Minas de Carvão de S. Pedro da Cova, Gondomar
Manual Alves de Brito, em 1795, por mero acaso, nus terrenos que nem sequer eram da sua pertença, descobre umas pedras de carvão (antracite), daí ao reconhecimento e caracterização geológica de inúmeras e importantes jazidas de carvão de pedra, foi num ápice, que mais tarde viria a revelar-se como a maior zona carbonífera do País.
Foto do armazenes de escolha, reserva e carregamento de carvão do complexo das Minas de Carvão de S. Pedro da Cova, Gondomar
Não tardou para que o Estado tenha despertado interesse na exploração mineira, que não chegou a exercer o auto titulado de “direito de concessão” e vende e a exploração passa de companhia em companhia até ser a extração ser de fato desenvolvida.
Foto de Mineiro puxando um cesto de carvão do poço da mina.
Até 1804, a extração foi irregular, os métodos tecnológicos não foram bem aplicados, pelo que eram gastos mais recursos que os necessários para obter uma produção pouco expressiva, o excesso de recursos humanos e combustíveis aliados a insuficiente profundidade de 100 metros, constituiriam as principais causas.
Foto de aparelhagem de madeiras para ancorar as paredes da mina.
A relutância, por parte dos concessionários, em introduzir os melhoramentos aconselhados pela moderna arte de exploração mineira, viria a condicionar a eficiência na extração da mina em todo o seu potencial, esta informação viria a ser afirmada num relatório levantado em 1890.
Foto de mulheres empurrando afincadamente vagonetes ou berlinas de carvão.
A produção em 1900 era calculada em 6 mil toneladas.
Foto da linha do cabo aéreo para transporte de carvão, 1917.
Em 1914, foi instalado um cabo aéreo com a extensão de 9 quilómetros que transportava o carvão até ao Monte Aventino, no Porto, no Lugar das Antas e também para a Estação dos Comboios de Rio Tinto.
Foto do transporte de carvão utilizando Zorras, camionetas ou carros puxados a animais .
O Monte Aventino era um depósito da companhia mineira com cerca de 42.000 metros quadrados, de onde seguia o carvão que abastecia a cidade do Porto. Os compradores utilizavam as Zorras, camionetas ou carros puxados a animais. O actual Parque de S. Roque está encostado ao Monte Aventino que daquela época já pouco terá.
Foto de um dos armazéns de carga da mina.
Em 1914 atingiu 25 mil toneladas.
Foto do cais do Rio Douro, carregamento dos barcos com carvão com o uso de certos, 1917.
A estalarão do cabo aéreo em Medas veio facilitar também o transporte do carvão até à margem direita do Rio Douro, na travessia do cais, mulheres com cestos à cabeça, acondicionavam o carvão para embarcar pelo Douro.
Foto do “Eléctrico 10” percorrendo as linhas do Porto até S. Pedro da Cova, assegurava o transporte de passageiros.
Foto de uma Zorra percorrendo as linhas do Porto até S. Pedro da Cova , assegurava o transporte de carvão.
Em 1918 surge a primeira ligação de transportes ao Porto, com a construção da linha do elétrico 10 com traço a qual chegou a S. Pedro da Cova proporcionando um contacto mais regular com uma nova realidade.
Foto da Central Hidro-Elétrica de Massarelos, 1917
Foi feito também um desvio para o Couto Mineiro, onde as Zorras (carros eléctricos preparados para transportar mercadorias e que aqui se chamavam “Viúvas” pela sua cor negra e sujidade) recolhiam o carvão e transportavam-no para o Porto com destino à Central Hidro-Eléctrica de Massarelos, inaugurada em 1915 e que veio substituir a da Arrábida.
Foto da Torre-Cavalete , situada na parte superior do Poço de S. Vicente, construída posteriormente.
Em 1921 abriu-se o Poço de S. Vicente que atingiu 157 metros de profundidade viria a ser aprofundado mais uma vez em 1935.
Foto de Operárias (Escolhedeiras de Carvão) da Minas de Carvão, Década de 40.
As duras condições de trabalho provocaram muitos acidentes, doenças e mortes. Talvez por isso e com o movimento e a organização sindical a apoiar, os mineiros e as gentes desta terra, ficaram com a fama de promover fortes lutas laborais contra o regime Salazarista por melhores condições de trabalho.
Foto do carregamento dos cestos para transporte do carvão.
Em 1923, da-se uma das famosas greves trabalhistas cuja manifestações foram contra o período de 16 horas de trabalho consecutivas (acho que é uma forma de dizer pois deveria haver um intervalo, pouco que fosse, para o lanche, embora comido no interior da mina).
Foto de vagonete ou berlinas de carvão empurrado por mulheres, década de 40.
Em 1932 cerca de 183 mil.
foto da Torre-Cavalete, foi construída para auxiliar auxiliar o acesso ao poço de S. Vicente
Em 1935 foi também construída a actual e arruinada Torre-Cavalete que se ergue acima do poço com a altura de 6 andares.
Foto de Mineiro munido dos objetos para entrada no poço da mina.
Por relatos de quem vivenciou bem de perto essa realidade, descreveu que levavam o farnel ao ombro, o gasómetro numa mão e o machado na outra. Os homens desciam para a mina por um sistema idraulico, dentro de uma jaula nela encastrado.
Foto de um Mineiro a extrair carvão do subsolo da mina.
O lugar mais fundo ficava a 450 metros de profundidade e só se atingia a pé. Da jaula seguiam, muitas das vezes com fardamento precário (muitos chegaram a trabalhar nus por não suportarem o calor), sobre as pedras afiadas para as suas frentes de trabalho, onde picavam as camadas de carvão durante oito horas, quando o elevador subia, devagarinho, e os homens cá fora falavam baixo uns com os outros, adivinhavam-se más noticias, morte ou ferimento grave teria resultado da infortunaria expedição.
Fotos de mulheres (Britadeiras)a prepara o carvão para as cestas ou carrinhos.
Os relatos e depoimentos dos mineiros não precisam de ser ficcionados para os considerarmos como «trágicos» no que toca à caracterização do trabalho no interior das minas. Também as precárias condições de segurança em que labutavam estes trabalhadores originavam graves acidentes de trabalho, significando nalguns casos a própria morte.
Foto de mulheres carregando as berlinas com carvão para transportar até as linhas de carga.
Um relatório estatístico referente a 1939 indica-nos que nesse ano foram contabilizadas 524 vítimas de acidentes de trabalho ocorridos nestas minas, o que equivale a cerca de 28 por cento do total dos trabalhadores, sendo que 64 por cento desses mesmos acidentes implicaram mais de sete dias de incapacidade de cada uma das suas vítimas.
foto do transporte subterrâneo de carvão auxiliado por veículos de tracção animal.
Em 1941, em plena guerra atingiram-se 360 mil toneladas de carvão.
Foto da Cooperativa do pessoal das Minas de Carvão, 1917.
Foto da Cantina Social das Minas de Carvão.
Foto da escola Particular de Adutos, Mina de Carvão.
Foto da Padaria Social das Minas de Carvão
Nem tudo era mau para os trabalhadores, já em plena II Grande Guerra Mundial, numa época de racionamentos, a empresa exploradora criou uma cooperativa onde vendia produtos abaixo do custo, uma cantina e promovia o ensino obrigatório para adultos e para os seus filhos, existe uma espécie de documentário em vídeo nos Arquivos da Cinemateca, produzido, pela Invicta Filmes, que reproduz o quotidiano da atividade minéiraa desde a extração, passando pelos diversos canais de distribuição e até alguns dos seus principais clientes industriais e de produção de energia.
Foto de uma empresa de fiação e tecelagem de Gondomar, utilizava carvão ativado como composto.
Foto da Fábrica de Fiação de Tecidos de Santo Tirso, 1917
Foto da Fábrica de Riba D’ave, 1917
Foto da Fábrica de Tecidos dos “Ingleses”.
Foto do campo de Futebol das Minas de Carvão, 1917
Foto das Piscinas das Minas de Carvão, 1917
Foi criados espaços de lazer para ocupação de tempos livres dos trabalhadores, familiares e amigos, foi construído um campo de futebol em em “terra batida” , rudimentar, para os tempos de hoje, e ainda uma piscina de dimensão bastante generosa a ponto de ter sido utilizada para campeonatos nacionais de Polo Aquático, o primeiro desporto coletivo olímpico.
Foto de em banda pertencente ao Bairro Social das Minas de Carvão
Construíram também um bairro residencial,composto por 102 habitações, hoje restaurado e todo habitado, o Bairro Mineiro, e as Casas da Malta onde habitavam os trabalhadores que vinham de vários pontos do País para as Minas. Uma delas foi adquirida pela Junta de Freguesia que a restaurou e nela instalou o Bonito, Instrutivo e Simbólico Museu Mineiro, além de serviços sociais para a terceira idade, essencialmente composta por ex-mineiros.
Foto das Instalações Médicas das Minas de Carvão.
Foto de cuidados Médicos e de Enfermagem das Minas de carvão.
Foto da farmácia, fornecimento gratuito de medicamentos para trabalhadores.
Apesar do descontentamento dos trabalhadores, pois trata-se de um setor de atividade, ainda hoje com os meios tecnológicos que dispomos,mais exigentes e desgastantes de sempre, pois foram evidentes as associações às maleitas de que padeceram muitos dos mineiros que trabalharam quase uma vida nas minas de carvão, as condições social dos trabalhadores, estavam muito acima do que eram as condiciones aplicadas a vários outras classes de trabalhadores, beneficiavam também de serviços médicos e de enfermagem no local de trabalho, assim como também os medicamentos eram fornecidos de forma absolutamente gratuita.
Ficha identificativa e representativa de um trabalhador.
Ficha identificativa e representativa de uma trabalhadora.
Na ficha pessoal de uma trabalhadora, pode ler-se um castigo aplicado por faltar às aulas. E também o pagamento de um subsídio de 100 escudos por maternidade. A questão das férias era outro direito cumprido dentro das normas, o que não acontecia com trabalhadores em outros lugares.
Foto de Mineiras com cestos de transporte de carvão na cabeça, década de 40.
Até finais da II Guerra Mundial, por volta de 1945 as minas de São Pedro da Cova, que chegaram a empregar 1800 pessoas de ambos os sexos, incluindo rapazes e raparigas. Eram as mais importantes do país de onde se extraía 70% da produção nacional de carvão.
Imagem do Relatório da Greve de 1946
Em 1946, dasse uma outra famosa greve dos mineiros de São Pedro da Cova, aquela que foi a primeira greve contra a ditadura “patronato nazi-fascista”, cerca de mil mineiros protestaram durante 6 dias para melhores condições salariais, ao todo, 31 operários mineiros foram detidos pela PIDE, no pós-Guerra, na sequência de uma luta que acabaria por resgatar um pouco da dignidade perdida ao fundo do túnel e teria impacto a nível nacional. Poucos sabiam ler e escrever.
Foto de trabalhadores de vários setores das minas de carvão.
Mas apesar da repressão, conseguiram aumentos na ordem dos 15 por cento nos seus salários. Também nos registos diários do pessoal em serviço, referente ao dia anterior à paralisação de 1946, regista-se a existência de 45 sinistrados e 124 doentes, entre mineiros e enchedores, número este assumido pela própria empresa.
foto de cestos de carvão a ser transportado até a Estação de Rio Tinto através dos cabos aéreos.
A baixa dos preços do petróleo traz a crise e o complexo mineiro fecha a 25 de Março de 1970.
Foto Panorâmica das Minas
Embora o declínio e extinção das Minas nos anos 70 do século passado tenha tido aspectos sócio-económicos gravíssimos, terá empregado aproximadamente 8.000 pessoas ao longo da sua existencia, o certo é que S. Pedro da Cova passou a ser um território mais populacional, até considerado um dormitório do Porto. A herança das minas permanece, porém, na freguesia.